Eu conheci Benjamim


Benjamim era um menino de 8 anos, que certa vez eu conheci, trabalhando de voluntária, aos 15 anos de idade, na pediatria da Santa Casa de Presidente Prudente-SP, perto de minha casa.
Ele não falava, mas, comunicava-se com gestos e ações. Não tinha cabelo, porque estava fazendo tratamento de quimioterapia e, por causa disto, todos chamavam Benjamim, carinhosamente, de “Kojak”, por causa de uma série da TV.

Meu trabalho era dar recreação para as crianças que estavam internadas na pediatria. Todo dia pela manhã, eu chegava ao refeitório, quando as crianças estavam terminando o seu café da manhã, para poder iniciar as atividades com brinquedos, desenhos, massinha de modelar, jogos e pinturas..

Mas, comecei a notar que Benjamim sempre estava debaixo da mesa, comendo escondido das crianças, parecia ter medo. Fiquei tão tocada por aquela atitude dele que, automaticamente, lá estava eu, sentada debaixo da mesa também, tentando ajudá-lo. Comecei a chamá-lo pelo seu nome: Benjamim. No início, ele parecia ter medo de mim ou algum receio de estar ali com ele na mesma situação, sentada no chão.

Com o tempo ele foi se habituando comigo e eu brincava com ele debaixo da mesa mesmo.
O primeiro passo foi começar a brincar com ele, longe da mesa, no chão. Ele foi aceitando a ideia. Depois fui mostrando pra ele, que era legal sentar na cadeira, brincávamos com as cadeiras como se elas fossem “um trenzinho”, colocadas em fila uma atrás da outra. Benjamim sorria, pois ele era “o maquinista”, o que ia à frente de todas as crianças. Com o tempo Benjamim, aprendeu a comer sentado na cadeira, junto com todas as crianças, fazendo parte da mesa das refeições.
Semanas depois, ele me surpreendeu. Antes das crianças sentarem para o almoço, ele afastou todas as cadeiras da mesa. No intuito de querer ajudar todas as crianças que estavam com soro e pedestal. Meus olhos ficaram paralisados vendo a atitude dele. Era uma vitória pra ele e uma realização pra mim.

Todas as manhãs, quando eu chegava para a recreação na pediatria, ele vinha me abraçar e, eu dizia brincando no seu ouvido:

-Benjamim, beija mim!!

Ele sorria e beijava minha face. Meus olhos ficavam marejados com o seu sorriso. O meu dia já estava ganho com certeza!

Não sei onde está Benjamim agora, mas, sei o quanto ele me ensinou com seus pequenos gestos.

Sou agraciada, eu conheci Benjamim!!


*lançado em maio/2009 -  Minha rua, Minha gente - CBJE - Rio de Janeiro



Comentários

  1. HELEN, seus textos são lindos e agradeço a indicação de leitura. Encatou-me sobremaneira o caso do menino Benjamim. Ele mostra sua capacidade de doação , de entrega por amor, por solidariedade. Parabéns. Beijos de Celina

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  2. Excelente texto! Novidade nenhuma para quem conhece o talento da autora. Parabéns!

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Agradeço sua atenção.

Helen De Rose